domingo

A Roda da Fortuna X






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Veja também essa iluminura medieval: http://pre-gebelin.blogspot.com/2009/04/complex-wheel-of-fortune.html
Na Idade Média, uma imagem predileta, que ocorre em muitos, muitos contextos, é a da roda da fortuna. Existe o eixo da roda e existe a borda da roda. Por exemplo, se você estiver preso à borda da roda da fortuna, você estará ou acima, no caminho descendente, ou abaixo, no caminho ascendente. Mas se estiver no eixo, você estará no mesmo lugar o tempo todo, no centro. ( Joseph Campbell no livro O PODER DO MITO )

Poema 

A Roda da Fortuna (A Retribuição)

A primeira hora do dia toca em distante relógio;
meus estudos devem começar.
Nenhum minuto pode perder em ócio
aquele que quer despertar.

Meu canto é do tempo e do tempo vem;
tudo que vejo são rios a correr.
Aquilo que passa, das florestas além,
nada mais retorna, nada mais se vê.

As folhas são levadas e as eras também.
Lembranças estão a brotar;
livre do mundo eu não vejo ninguém;
e o destino a rodar...

Longínquos reis de reinos dourados;
histórias contadas nas teias das lãs.
as quais estão a cantar os bardos:
Tantas as palavras vãs!

Passa o inverno e o verão vai embora;
as eras são remotas, enfadonhas.
Pois quem se lembra, quem delas recorda?
poucos têm memória de suas entranhas.

Nas eras caídas, ruínas antigas;
nos pilares trincados dos campos e ermos;
nas brumas, nas nuvens, nos suspiros das vidas
flores de outrora nos túmulos enxergo.

De nada recordo, de nada me lembro
apenas do sopro, do sopro do vento
que gira a roda, a roda do tempo
nos recantos de meu pensamento.

E a subir vem o moinho,
e a descer ele vai.
Segue indo e segue vindo;
e dele o sumo extraído cai.

Ó homens de cana, até quando
o sofrimento irão aguentar?
Estão a se ferir em seu sono;
que momento irão acordar?

Caminho solene no vale de lágrimas;
o lodo espesso me barra o passo.
Negra serpente a se arrastar no Samsara;
Lanço uma pedra com a destra e a mato.

O lodo então aos meus pés se dissolve.
De um lado um Buda em ouro polido
uma flor de lótus o envolve.
108 contas refulgem em seu colar altivo.

A árvore do conhecimento se vislumbra na curva;
Nela dez jóias engastadas;
Enorme é sua alvura,
dentre as sombras da noite alada.

Para onde, então, devo ir,
antes do raiar do dia?
Para onde me dirigir
Para fugir da roda maldita?

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